Este Disco Pertence ao Hermes Macedo
Neste final de semana fui à Joinvinil. Uma feira de discos de vinil daqui de Joinville. Com a retomada das pessoas pelo interesse em comprar as famosas bolachas pretas, encontrei um emaranhado de gente disputando lugares ao lado das caixas de vinil em exposição, organizados por estilo, estado de conservação e preços. Para mim, ir à eventos como esse hoje em dia é algo muito peculiar, pois ao contrário de anos atrás, quando saia para comprar discos novos – ou até mesmo não muito tempo atrás, quando ficava horas procurando alguma coisa nos sebos – hoje em dia só vou neste tipo de evento para poder encontrar os amigos. E foi justamente o que aconteceu. Encontrei alguns que não conversava há algum tempo e outros tantos que só consigo cumprimentar através das redes sociais.
Meu objetivo estava completo. Saí para dar uma volta e encontrei alguns amigos. Mas em meio a uma conversa e outra, ficava olhando para aquelas caixas de discos e pensando que talvez pudesse encontrar alguma preciosidade perdida por ali, no meio de tantas opções. Assim como um ex-alcoólatra que entra em um bar e é tentado por toda sorte de Drinks diferentes, não contive o impulso e fui lá garimpar algo – esse é o termo que se usa, para comparar um minerador em busca de pepitas de ouro ao colecionador em busca de um disco difícil de encontrar.
E qual foi minha surpresa, depois de tantos anos comprando discos, em achar algo. Digo, algo, pois não foi exatamente um disco raro. Encontrei um bom disco, porém ele tinha a mesma característica de outros tantos que eu costumava encontrar nos sebos em meados dos anos 1980; uma frase escrita com caneta esferográfica azul que dizia: Este disco pertence ao Hermes Macedo.
Assim como um ex-alcoólatra que entra em um bar e é tentado por toda sorte de Drinks diferentes, não contive o impulso e fui lá garimpar algo.
Ora, mas que diabo ! – desculpe a expressão – mas lá estava outro disco com a tal frase. Conferi para ver se tinha a mesma característica dos discos do passado, e tinha! Escrita com uma caligrafia cursiva com muitos garranchos, espalhada pela capa, contracapa, no encarte e até nos selos dos lados A e B. Cansei de comprar discos usados com a tal frase. Sem falar de tantos outros que não comprei, mas vi lá estampado os benditos garranchos. Com o passar do tempo, me acostumei a ir em sebos e notar aquilo.
Passei até a classificar os sebos que não tivessem discos assinados por ele, como sendo locais com discos mais recentes. Sem falar que na maioria das vezes que achava algum vinil com a assinatura dele, o álbum daquele cantor ou banda era muito bom. E se por acaso eu não conhecesse a banda, mas lá estivesse a tal frase do Hermes Macedo, pensava comigo mesmo “Este sujeito tem uma péssima caligrafia, mas para música tem um certo bom gosto. Acho que vou levar pois talvez tenha algo interessante aqui”.
Chegava em casa e ia direto usar toda sorte de artimanha para tentar remover a tinta grudada no papel. Possivelmente sempre usou tanta força para escrever, que mesmo caso eu conseguisse tirar o que estava escrito, ficavam lá os valos deixando o papel marcado. Nesse momento não pensava em seu bom gosto musical. Eu o xingava, e muito. Como pode alguém sair por aí escrevendo em cima de algo tão precioso quanto uma capa de um disco de vinil. Já vi muitos discos em sebos com dedicatórias, mas a maioria eram seleções românticas ou bandas que não me interessavam tanto. Acho até que foi moda nos anos 1970, quando na falta de um cartão, escrever na capa do disco dado como presente tornava aquele objeto mais valioso e pessoal.
Devo admitir que alguns até tinham traços muito bem feitos, parecendo até letras desenhadas por um calígrafo. Mas inevitavelmente, a grande maioria que encontrei era composta por garranchos riscados a esmo; onde duvido que a própria pessoa que ganhou, tenha conseguido decifrar o que estava escrito. Deve vir daí meu total descaso em ter discos autografados pelos artistas. Somente em dois casos muito particulares, um tanto desconfiado e meio contrariado, “deixei” que o cantor autografasse o próprio disco.
Neste momento está tocando o disco que comprei com a tal frase do Hermes Macedo. E estou pensando “Este sujeito deve ter tido muitos discos. E por incrível que pareça, sua caligrafia não melhorou nem um pouco”.
DJ Hermes! Simplesmente o melhor DJ dos anos 80. Melhor DJ do Floresta. Seu repertório criou um estilo único e inconfundível. Músicas que só tocavam no Floresta lançadas por ele. Conseguiu fazer um repertório completo das músicas da época, anos 70 (era o flash back da época) rock nacional e internacional (o som da pesada) e música lenta. Os DJs que surgiram depois não conseguiram continuar esse trabalho.
Tinha seus milhares de discos. O que levou a assinatura exclusiva não sei explicar. Nem o motivo que levou ele se desfazer dos seus milhares de discos. O que ficou foi as lembranças do seu trabalho. Muita coisa aprendi com ele observando o seu trabalho. Outra principal qualidade Humildade. Coisa muito rara nas pessoas de hoje em dia.
Sou Dj Gryllo mais conhecido como GRYLLO MEGAMIX Essa assinatura era a forma que o Hermes Macedo, acredite esse era o nome dele, arrumou para que não roubassem seus discos. Na verdade quando trabalhei junto na Sociedade Floresta com a Equipe Styllo Group Pop Som – O som da Pesada, era assim as vinhetas gravadas